A transição para os veículos elétricos está desenhando um novo cenário para a indústria automotiva, e o mercado de autopeças não é exceção.

Essa mudança está sendo impulsionada por diversos fatores, como, por exemplo, a crescente preocupação com as mudanças climáticas, os avanços tecnológicos e as políticas governamentais que incentivam a adoção de veículos mais limpos.

À medida que mais países adotam metas ambiciosas para reduzir a emissão de carbono, a indústria automotiva tem feito uma transição gradual dos motores a combustão para os motores elétricos.

Essa transição está transformando não apenas o setor automotivo, mas também o mercado de autopeças, criando tanto desafios quanto oportunidades para os players desse setor.

Crescimento dos veículos elétricos

Nos últimos anos, a venda de veículos elétricos vem crescendo, com previsões otimistas de que até 2040 eles representarão uma grande fatia do mercado global de automóveis.

De acordo com o relatório Long-Term Electric Vehicle Outlook da BloombergNEF, as vendas de veículos elétricos de passageiros devem exceder 30 milhões em 2027 e atingir 73 milhões por ano em 2040.

A redução do custo das baterias de íon-lítio e o aumento da eficiência das infraestruturas de carregamento têm melhorado a visibilidade desses veículos para o consumidor médio.

Principais impactos dos carros elétricos no mercado de autopeças

A transição representa uma mudança significativa na demanda por componentes automotivos. Ao contrário dos veículos movidos a combustão, os veículos elétricos possuem menos peças móveis. Como resultado, o mercado tradicional de autopeças, que é focado principalmente na manutenção e substituição desses componentes, será inevitavelmente afetado.

Redução na demanda por algumas peças

Com a ausência de um motor a combustão, peças como filtros de óleo, velas de ignição e sistemas de exaustão tendem a se tornar obsoletas. Dessa forma, tudo leva a crer que haverá uma diminuição na demanda por essas peças, o que pode afetar os fabricantes e distribuidores de peças tradicionais.

Novas oportunidades de mercado

Por outro lado, a eletrificação dos veículos cria um novo mercado para componentes, como baterias de alta capacidade, inversores, carregadores, sistemas de controle eletrônicos, sensores e motores elétricos.

Portanto, as empresas que fornecerem esses componentes estarão em uma posição privilegiada no mercado de autopeças.

As baterias de íon-lítio, em particular, tornaram-se um dos componentes mais críticos, sendo responsáveis por uma fatia significativa do custo de produção. Isso abre espaço para fornecedores de materiais como lítio, cobalto e níquel, além de empresas focadas no desenvolvimento de tecnologias de baterias mais eficientes.

Além disso, a crescente sofisticação dos sistemas de software e conectividade, abrirá novas oportunidades no mercado de autopeças, com destaque para componentes ligados à tecnologia de direção autônoma e conectividade inteligente.

As empresas que melhor se adaptarem a essa nova realidade e investirem em pesquisa e desenvolvimento poderão se beneficiar desse setor que está em crescimento.

Mudança no perfil profissional

A manutenção de veículos elétricos exige um novo conjunto de habilidades e conhecimentos. Sendo assim, mecânicos precisarão se especializar em eletrônica, software e sistemas de alta tensão.

Mudanças na cadeia de suprimentos

A cadeia de suprimentos também será impactada, já que os componentes dos veículos elétricos exigem matérias-primas diferentes, como lítio, níquel e cobalto, essenciais para a produção de baterias.

Isso poderá afetar a dinâmica do mercado global de autopeças. Afinal, poderá haver uma dependência maior da extração e refino desses materiais. Além disso, a pressão por sustentabilidade deve exigir que as empresas inovem na reciclagem de baterias e na gestão eficiente de resíduos.

O que podemos esperar para o futuro?

É provável que grandes fabricantes de autopeças tradicionais se adaptem e invistam em novas tecnologias, enquanto empresas menores e mais especializadas em componentes para veículos elétricos surjam e ganhem força.

Fabricantes tradicionais de autopeças que não adaptarem seus portfólios correm o risco de perder relevância no mercado. A necessidade de requalificação da força de trabalho será vital, assim como a adaptação das linhas de produção para se alinhar às novas exigências tecnológicas.

Empresas que fornecem peças para motores a combustão precisarão repensar suas estratégias de inovação, investindo em novas áreas, como baterias, carregadores e componentes eletrônicos.

A eletrônica terá um papel cada vez mais central nos veículos elétricos, com sistemas mais complexos e interconectados. Isso exigirá um maior investimento em software e segurança cibernética.

Outro ponto a ser considerado é que a integração de tecnologias de automação e inteligência artificial, muitas vezes associadas aos veículos elétricos, exigirá um reposicionamento estratégico das empresas e investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.

Novas oportunidades para o setor de manutenção e reparos

Ao mesmo tempo que a adoção de carros elétricos gera grandes desafios para o mercado de autopeças, cria também um ambiente repleto de novas oportunidades.

Embora os veículos elétricos exijam menos manutenção do que os veículos convencionais, ainda haverá uma necessidade por serviços de reparo e manutenção, especialmente no que diz respeito a sistemas elétricos e eletrônicos complexos.

Oficinas e fornecedores de autopeças terão a oportunidade de se adaptar e desenvolver expertise, criando oportunidades para a especialização técnica e serviços diferenciados.

Transição gradual para utilização de veículos elétricos

Embora a eletrificação seja uma tendência clara, a transição para veículos elétricos será gradual. Veículos a combustão ainda estarão em circulação por muitos anos. Portanto, a indústria de autopeças terá um período de coexistência de tecnologias.
Durante esse período, haverá uma redução progressiva nas peças para motores a combustão e um aumento nas peças para veículos elétricos.

E por que essa transição é gradual?

A transição para os veículos elétricos não ocorre de forma instantânea por diversos motivos:

• infraestrutura: ainda há a dependência da construção de uma rede de carregadores elétricos ampla e eficiente para garantir a autonomia dos veículos e a conveniência dos usuários;
• custos: os veículos elétricos ainda são mais caros que os modelos a combustão, embora os preços estejam caindo gradualmente;
• hábito dos consumidores: mudar hábitos de consumo estabelecidos leva tempo e exige uma mudança cultural.

O sucesso da transição para os veículos elétricos depende da atuação conjunta de 3 (três) atores:

• governos: os governos podem incentivar a adoção de veículos elétricos através de políticas públicas, como incentivos fiscais, investimentos em infraestrutura de carregamento e regulamentação do setor;
• indústria: as empresas do setor automotivo devem investir em pesquisa e desenvolvimento para produzir veículos elétricos cada vez mais eficientes e acessíveis;
• sociedade: a sociedade como um todo precisa estar envolvida nesse processo, através da conscientização sobre os benefícios dos veículos elétricos e da mudança de hábitos de consumo.

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